segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Vamos ao Teatro


Dramoletes de Thomas Bernhard
Os “dramoletes” são formas breves. E falam portanto de modo conciso e certeiro. Não divagam, escalpelizam. Não nos dão tempo para variações, vão direitos ao conflito e expõem as contradições. Do que tratam? Da sobrevivência de formas de mentalidade nazi, num ambiente que, pelos vistos, mantém as condições do seu reaparecimento. Um ambiente que mistura um catolicismo fundamentalista com as técnicas da sociedade do es
pectáculo.

No primeiro, a esposa de um polícia extenuado, entre a perversidade mórbida da necessidade de violência para impor tranquilidade social e o sexo a fazer, põe a nu o seu primarismo de candidata a mulher dos SS.
No segundo dramolete, duas beatas saídas da Igreja, maldizem os turcos que se aproximam do cemitério e uma delas, excitada, promete gaseá-los;
No terceiro, a visão alucinada de um morto traz à tona a actividade “normal” de uma colagem de cartazes com cruzes suásticas;
Estaremos perante um teatro político? Certamente, mas na sua melhor forma, isto é, teatro não panfletário, teatro de uma identificação a cru das taras pós modernas do conservadorismo que, como poder, continua nesta Europa do pós-guerra a governá-la em conúbio com o pior dos fanatismos.


Política no sentido mais nobre, o da exposição clara do que os meios de desinformação da realidade tentam sempre: camuflar o que é monstruoso na sua bestialidade e tido como normal, ou pela ausência de notícia ou pelo excesso da sua exposição. Quanto mais se dramatiza menos de dá a ver, quanto mais se “sensacionaliza” menos se dá perceber.
Eis a contra-estratégia dos “dramoletes”: fazer o retrato indesmentível do pior da história europeia como vida coetânea e normalidade aceite, o nazismo, num gesto claramente acusador.

http://www.teatro-da-rainha.com/V2/index.php?option=com_content&view=article&id=288:dramoletes&catid=39:em-preparacao&Itemid=64

Sem comentários:

Enviar um comentário